sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Competitividade é inventar novos mercados

Empresas integrantes de clusters, pólos ou Arranjos Produtivos Locais (APL) devem ter como objetivo aumentar o grau de competitividade, seja por meio da atuação em grupo ou individual. Ser competitivo é a única forma de sobreviver no mercado interno ou mundial, hoje em dia. Competitividade é inventar novos mercados.

Aglomerações empresariais podem variar de desenho, conceito e terminologia de país para país, essa não é a questão mais importante. O foco dos grupos de empresas de um mesmo setor ou segmento, estabelecidos num mesmo território, deve ser descobrir como seus empreendimentos se tornam mais competitivos.Atualmente tempo significa mais e mais dinheiro. Os ciclos do mercado estão cada vez mais rápidos e curtos. Longos processos de articulação, produção de diagnósticos e planejamento de ações, reuniões em demasia, consultorias de especialistas acadêmicos, não voltados para o mercado, burocracia, entre outros fatores, podem estar levando clusters, pólos ou Arranjos Produtivos Locais (APL) ao fracasso.

Empresas e clusters têm de aprender a ser ágeis e ficar atentos em diversos sentidos para perceber as oportunidades ou necessidade de mudança de rumo.Essas constatações foram colocadas pelos consultores da empresa espanhola Competitiviness, especializada no desenvolvimento de clusters e atuante em vários países, desde 1991. Emiliano Duch e Carlos Tarrason, respectivamente diretor e consultor da empresa, foram palestrantes de evento para colaboradores do Sebrae realizado na quinta-feira (2) em Brasília (DF). Eles apresentaram a Metodologia de Reposicionamento Competitivo, um produto da Competitiviness, que está sendo aplicada, como piloto, no APL de Calçados de Nova Serrana (MG).Equívocos“Na Europa, estamos preocupados com os clusters, talvez eles não sirvam para nada”, afirmou Duch. Nas últimas décadas, criar clusters virou moda em vários países. “A terminologia pode variar entre cluster, distrito industrial, pólos de competitividade, etc”, acrescentou Duch. “É preciso ser competitivo em algum segmento para implantar um cluster”, argumentou.Na Itália, os arranjos distritais surgiram na região da Lombardia, onde há tradições produtivas seculares (os Arranjos Produtivos Locais implantados no Brasil são baseados na experiência italiana). Um deles possuía 200 anos de conhecimento na fabricação de balanças, contou o consultor. Tudo foi bem até a entrada das balanças chinesas no mercado mundial. Esse arranjo não se preparou para lidar com os concorrentes asiáticos e desmoronou, citou como exemplo.“Até quanto é produtivo reforçar clusters setoriais tradicionais? Não adianta mais fazer bem feito”, ressaltou Duch. Os clusters do setor florestal da Finlândia, outro exemplo, estão sendo desativados no momento, no ritmo de uma unidade por mês, segundo ele. A migração da metalurgia do formato de altos fornos para minifornos provocou essa situação.A visão equivocada dos clusters de TI de Sofia, capital da Bulgária, provocou a perda de excelente mão-de-obra local para a concorrência.

As empresas demandavam engenheiros, implantação de cursos universitários na área ao governo, porém não pagavam bons salários aos contratados. Essa postura acabou provocando a captura de excelentes profissionais búlgaros por empresas concorrentes de outros países europeus. “Um dos objetivos dos clusters é melhorar a qualidade de vida e gerar prosperidade para os cidadãos”, criticou Duch.Guinada inglesaO bom exemplo de reposicionamento estratégico de competitividade, citado pelos consultores espanhóis, ficou por conta de fato em andamento na Inglaterra (eles estão trabalhando no caso). Nesse país, vários clusters beneficiam 70% dos pescados congelados consumidos pela população e se situam no norte, próximos a dois portos tradicionais. Associações de pescadores e processadores, fornecedores de material, consórcio de empresários e sindicatos, entre outros, participam desses clusters.Tentativas foram feitas para alavancar as vendas de pescado congelado na Inglaterra, como políticas públicas e campanhas para inserir o produto na merenda escolar, alertar os benefícios do alimento para a população, mas não adiantava. “Não melhorou a competitividade desses clusters e seus integrantes”, resumiu Duch. Para dificultar mais a situação, os chineses entraram no mercado de congelados, derrubando os preços.Algumas empresas estavam começando a apostar no peixe fresco, como alternativa à derrocada do pescado congelado.

“Há sempre aquelas empresas, que fazem movimento inovador, às vezes contrário ao da maioria”, explicou o consultor. A solução pode estar com esses.Aos poucos, os demais integrantes do cluster começaram a avaliar o novo caminho para os negócios. A adesão do grupo, após certo período de observação dos inovadores e constatação de que pode ser um reposicionamento possível e lucrativo, é uma das premissas da metodologia da Competitiviness.Estudos e análises de mercado sobre consumo de pescado fresco foram feitos. No momento, esses clusters estão migrando o formato de seus negócios, de pescado congelado para pescado fresco. “Não é fácil”, observou o consultor. Eles são vendidos com temperos, instruções, etc, estimulando o preparo caseiro.“Sessenta por cento dos ingleses não sabem o que vão comer à noite, às cinco da tarde. Eles estão voltando à cozinha”, disse Duch, baseado em pesquisas. Esse novo mercado de alimentação se chama “ready meal” ou refeição pronta.

Na verdade, são vendidos os ingredientes higienizados e cortados, prontos para cozinhar. O produto tem como slogan “fresh never frozen” ou “fresco nunca congelado”.

Resultado: o consumo de pescado congelado está caindo e o de peixe fresco, crescendo. O setor pesqueiro da Islândia está ganhando com a mudança de formato do mercado inglês. Esse país peninsular, situado no Mar do Norte, com apenas 200 mil habitantes, possui estrutura de pesca muito desenvolvida, toda computadorizada, transporte do produto por avião, etc. “Em 24 horas, o peixe está na Inglaterra”, informou o consultor.O pescado fresco está mudando a infra-estrutura dos clusters ingleses. Agora, eles precisam contar mais com aeroportos do que com portos. Empresários estão investindo na montagem de negócios de logística de transportes.Outra grande vantagem é a ausência da concorrência chinesa no mercado de pescado fresco. Eles não podem fornecer peixe fresco à Inglaterra, devido à distância e logística, justificou o consultor. “Esse produto tem sete dias de validade, no máximo”, observou Duch.
Fonte: http://www.administradores.com.br/noticias/competitividade_e_inventar_novos_mercados/17741/

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